Chiado Artístico e Literário

O Chiado é um centro tradicional da cultura urbana lisboeta. Consolidado como área urbana nos séculos XIII e XIV, povoada por conventos e casas nobres, foi sobretudo com a reconstrução da cidade, depois do terramoto de 1755,  que se iniciou o ciclo de atividade comercial e de vivências culturais, que se intensivou nos séculos XIX e  XX. Escritores e artistas de projeção internacional, como Alexandre Herculano Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Almada Negreiros, são algumas das figuras evocadas nesta visita e os seus itinerários podem ser hoje os nossos.

Partimos da Rua António Maria Cardoso, antiga Rua do Tesouro Velho, que ficava no interior da muralha medieval do século XIV. Aqui se destaca o Teatro São Luiz, um edifício de arquitetura eclética e um espaço cultural com programação variada. Mandado construir pelo Visconde de S. Luís Braga, foi concebido pelo arquiteto Ernest-Louis Reynaud e pelo cenógrafo Luigi Manini. Inaugurado em 1894, foi destruído por um incêndio em 1914 e logo remodelado pelo arquiteto Tertuliano de Lacerda Marques. Em 1930, iniciou a vertente de cinematográfica com a apresentação do célebre  filme Metropolis de Fritz Lang. Por aqui têm passado artistas de muitas artes. Um pouco mais à frente, no nº 39, funcionou o Antigo Chiado Terrasse. Inaugurado em 1908, foi o primeiro salão cinematográfico da cidade, contruído especificamente para este fim. Destaca-se hoje a sua fachada eclética, concebida pelo arquiteto Tertuliano de Lacerda Marques.

Descendo as escadinhas da Travessa dos Teatros, logo ao lado do Centro Nacional de Cultura, chegamos ao Largo do Picadeiro, um espaço arborizado, onde se ergue um caraterístico edifício do século XIX com uma galeria de ferro e vidro na fachada. Aqui funciona o Café no Chiado, um café literário onde o ambiente é povoado de livros e obras de arte, evocando a Editora/Livraria Moraes, que foi um espaço de inovação cultural nos anos 60 e 70 do século XX, ligado à célebre Revista O Tempo e o Modo.

Logo em frente, no Largo de São Carlos propomos uma paragem diante do Teatro Nacional de São Carlos, espaço emblemático da música lírica em Portugal, com regular programação de Ópera. Construído entre 1792 e 1793, pela mão do arquiteto José da Costa e Silva, é um edifício de arquitetura neoclássica, de inspiração italiana. Por aqui têm passado as grandes figuras nacionais e estrangeiras da música e as grandes orquestras, companhias de bailado e de dança. Num dos edifícios em frente do Teatro, devidamente assinalado na fachada, nasceu em 1888 o poeta Fernando Pessoa, referência essencial da cultura portuguesa. Em sua homenagem, foi colocada, em 2008, neste largo, uma escultura do artista belga Jean-Michel Folon.

De seguida, propomos a visita ao Museu Nacional de Arte Contemporânea-Museu do Chiado, detentor de um importante acervo, bem representativo da arte portuguesa, desde a 2.ª metade do séc. XIX até à atualidade.

Dirija-se ao Largo do Chiado e observe a Estátua de António Ribeiro Chiado, um monumento da autoria do escultor Costa Mota, aqui colocado em 1925, em homenagem ao poeta e dramaturgo do século XVI. Em frente, fica o antigo Palácio Pinto Basto, um caraterístico edifício do século XIX com uma forte presença urbana. Observe atentamente as duas igrejas que se impõem pela sua escalar e expressão artística. A Igreja de Nossa Senhora do Loreto foi construída no século XVI para sede da paróquia dos italianos em Lisboa. Reconstruída depois do terramoto de 1755, tem importantes valor artístico, tanto pelos conjuntos escultóricos da fachada como pela decoração do interior. A Igreja de Nossa Senhora da Encarnação é um exemplar da arquitetura do século XVIII com elentos clássicos e rocaille.

No Praça Luís de Camões destaca-se  o Monumento a Luís Vaz de Camões, poeta do século XVII, autor de uma genial obra lírica, épica e teatral, com destaque para  Os Lusíadas, a epopeia mais famosa da literatura portuguesa. O monumento, inaugurado em 1867, é da autoria do escultor Vitor Bastos e para além da estátua do poeta, em bronze, integra grupos escultóricos em pedra, alusivos a  figuras históricas dos humanistas do século XVI.

Descendo a Rua do Alecrim, chegamos ao Largo Barão de Quintela onde pode apreciar a belíssima escultura que evoca o grande escritor oitocentista Eça de Queiroz que, através do seu notável realismo descritivo, ilustra importantes aspetos da vida do Chiado no século XIX. Trata-se de uma réplica em bronze da estátua original, realizada em mármore, pelo escultor Teixeira Lopes, em 1903, e que se encontra no Museu da Cidade.  Em frente fica o Palácio Barão de Quintela, um edifício com fachada neoclássica.

De regresso ao Largo do Chiado, subindo pela Rua Nova da Trindade, observe a fachada do antigo Teatro do Ginásio, com elementos característicos da Art Deco. De seguida, propomos uma paragem no Teatro da Trindade onde, em 1735, funcionou o primeiro Teatro Popular de Ópera. Em 1867, foi construído o atual edifício com características neoclássicas, de acordo com o projeto de arquitetura de Miguel Evaristo de Lima Pinto. Ainda hoje é uma das mais importantes salas de espetáculos de Lisboa com programação regular.

Descendo a Rua da Trindade, no n.º 26, pode observar o curioso edifício cuja fachada se encontra totalmente revestida por azulejos do século XIX, com representações alegóricas, designado Casa do Ferreira das Tabuletas, nome pelo qual era conhecido o pintor Luis Ferreira, autor deste notável conjunto artístico.

No  Largo Rafael Bordalo Pinheiro, evocamos as célebres Conferências do Casino Lisbonense, que aqui se realizaram em 1871, por iniciativa do poeta Antero de Quental e demais escritores e intelectuais que constituíam a Geração de 70. Inspirados pela inovação estética que chegava de Paris, tiveram como objetivo lançar uma reflexão sobre as mudanças politicas, sociais e artísticas.

Descendo a Rua Serpa Pinto, voltamos ao Largo do Chiado e encontramos-nos na Rua Garrett, onde é obrigatório parar e ntrar na Brasileira do Chiado, um dos cafés históricos mais importantes da Europa. Local de tertúlias de famosos intelectuais de várias épocas, nomeadamente das vanguardas artíticas e literárias, foi projetada nos anos 20 do séulo passado pelo arquiteto Norte Júnior. Surprende pelo requinte da fachada e do espaço interior, onde se insere um notável conjunto de  pintura moderna e contemporânea de autores portugueses. No exterior fica a Estátua de Fernando Pessoa, sentado à mesa do café, obra do escultor Lagoa Henriques, ali instalada no centenário do nascimentodo poeta.

Na Rua Garrett, encontramos muitos motivos para parar. Aqui, edifícios comerciais do século XIX, que continuam em funcionamento, revelam-nos o requinte da elaboração artística. No início, o edfifício da Casa Ramiro Leão e a loja  Paris em Lisboa são reprersentativos das artes do final do século XIX e do início do século XX. Logo ao lado, a Igreja dos Mártires, construída na segunda metade do século XVIII, segundo modelos da arquitetura pombalina, onde classicismo e rococó se interligam. De seguida, surpreende-nos num edifício revestido por azulejos de padrão azul e branco, onde se localiza a Livraria Bertrand, a mais antiga do mundo. Aqui, os livros sempre atraíram tertúlias de escritores, como Alexandre Herculano e  Aquilino Ribeiro.  Na outra frente da rua, localiza-se a Gadérnia, uma loja com fachada Art Deco, da autoria do arquiteto Raul Lino. Logo ao lado, preserva-se o espaço da antiga Ourivesaria Aliança. Com uma nova identidade, mantem bem preservada a caraterística decoração da fachada e dos interiores. Do outro lado da rua, pode apreciar os painéis de azulejos modernistas,  da autoria do pintor Querubim Lapa.

Virando para a Rua Ivens podemos apreciar a ambiência arquitetónica e urbana de uma caraterística rua do Chiado. Aqui convivem edifícios de habitação, comércio e serviços. No final, abre-se o Largo da Academia Nacional de Belas Artes, onde terminamos o nosso roteiro. É um espaço aprazível, onde se ergue o busto do Visconde de Valmor, grande mecenas das artes na transição do século XIX para o século XX. No edifício do antigo Convento de S. Francisco, funciona hoje a Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, a escola superior de ensino artístico mais antiga de Portugal. Por aqui passaram grande parte dos mais destacados artistas portugueses.

Percurso

Teatro São Luiz

Antigo Chiado Terrasse

Café No Chiado

Teatro Nacional de São Carlos

Estátua de homenagem a Fernando Pessoa

Museu Nacional de Arte Contemporânea

Estátua de António Ribeiro Chiado

Palácio Pinto Basto

Igreja de Nossa Senhora do Loreto

Igreja de Nossa Senhora da Encarnação

Monumento a Luiz  Vaz de Camões

Estátua de Eça de Queiroz

Palácio Barão de Quintela

Antigo Teatro Ginásio

Teatro da Trindade

Casa do Ferreira das Tabuletas

Brasileira do Chiado

Rua Garrett

Livraria Bertrand

Busto do Visconde de Valmor

Faculdade de Belas Artes

 

Duração

2h30