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Música
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Serpente, de BLEID

Vê-la em palco é tomar pulso a Lisboa e à sua música urbana.

Dias da Aranha
Disco após disco, as infusões e outras explorações de Bruno Silva têm-se vindo a assumir como essenciais. Uma identidade sempre em movimento e que se tem vindo a materializar enquanto Ondness ou Serpente. Nestes moldes, existe já um terreno sedimentado, absoluto de visão, entendimento e honestidade. Tudo elementos chave nesta equação alquimista pós-musical, aglutinando formas e insights além da superfície das coisas. É da penumbra e dos recantos que estas improvisações e composições lentamente saem para o exterior. A dinâmica de encontros rítmicos e melodias distantes formam um luxuoso fluxo sonoro como poucos.

Dias da Aranha é uma inesperada obra a surgir em 2021. Traz escassas memórias do anterior Fé / Vazio e sentimos que se trata de um capítulo importante nesta história – e com uma multiplicidade de universos em expansão. Com participações de gente como Kelly Jayne Jones, Maxwell Sterling, Pedro Sousa, Gabriel Ferrandini ou Vasco Alves, a magia que aqui acontece é real. Repleto de micro detalhes e ilusões auditivas, a habitual escuta dá lugar a uma experiência sensorial viva. O saxofone de Sousa é talvez o instrumento que mais imediatamente se acopla aos rituais em fogo lento de Serpente – um possível 4th world como um dia Jon Hassell imaginou ou um grito de libertação proferido por Albert Ayler. O quotidiano parece ser aqui objecto de pensamento e processamento, com interlúdios dreamy e colagens dub, segundo um cuidadoso laboro. Frequentemente cruzamo-nos com pequenos milagres criativos que se enlaçam numa infinita teia de realidades paralelas. É entre essa brilhante zona cinzenta, entre o concreto e o abstracto, que Serpente/Ondness opera – e para atingir o que aqui se atinge, não se pode partir de qualquer outro ponto. Ressalta, acima de tudo, um belíssimo sentimento de quieta inquietude.

Assim, com um novo disco no horizonte e vários anos depois da sua última apresentação ao vivo em Lisboa, Serpente apresenta-se no NOVO NEGÓCIO com uma nova formação, juntando Pedro Sousa, no saxofone, ao eixo já conhecido de Bruno Silva. NA

BLEID é nome valioso da electrónica local. Em poucos anos, cunhou um freestyle pessoal que ainda hoje ajeita formas. Além de produtora, Mariana Freitas é uma importante agitadora cultural para quem a palavra comunidade é a génese – e o caminho. Figura marcante das noites da Príncipe Discos, Mina ou Rádio Quântica, mais recentemente tem-se feito acompanhar por guitarra. As paisagens mais densas e os seus infinitos relevos sempre ecoaram na batida híbrida que marcou discos como o homónimo para a editora Labareda. No entanto, esta nova fase abre novas vias de expressão; uma necessidade, mais que um desejo. Vê-la em palco é tomar pulso a Lisboa e à sua música urbana. Aqui e agora, diante de nós. NA

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