A mostra exibirá alguns dos 90 mil sinais de expostos preservados no Arquivo Histórico da instituição, assim como obras de Paula Rego, Leonardo da Vinci, Almada Negreiros, Júlio Pomar e Graça Morais, e está integrada na candidatura destes sinais a Registo da Memória do Mundo da UNESCO.
O Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa conserva perto de 90 mil sinais de expostos – objetos que acompanhavam as crianças expostas na roda – , organizados em cinco séries documentais, com datas entre 1658 e 1939. Trata-se da maior coleção de documentos deste tipo a nível mundial e, em breve, será possível ver alguns destes sinais na exposição “Filhos de todos… filhos de quem? Os expostos da roda de Lisboa”, na Galeria de Exposições Temporárias do Museu de São Roque, da Santa Casa, numa iniciativa que se insere na candidatura destes documentos a Registo da Memória do Mundo da UNESCO.
A exposição está organizada em quatro núcleos principais:
• Os expostos da roda de Lisboa: abandono e proteção, aborda o contexto histórico e social do abandono infantil, as relações de parentalidade e os mecanismos de proteção criados em torno das crianças enjeitadas em Lisboa, entre os século XVII e XX. Estes temas são reveladores de contextos políticos, económicos, sociais e culturais e, nesse sentido, propõe-se refletir sobre os mesmos partindo dos sinais de expostos, de documentação do Arquivo Histórico da SCML e de obras de arte como a “Rapariga lavando os pés a uma criança”, de Leonardo da Vinci; “Maternidade”, de Almada Negreiros; um tríptico de Paula Rego; “Subúrbio I”, de Júlio Pomar; e “A Guerra”, de Graça Morais. Os sinais de crianças expostas são, ainda, uma fonte importante no estudo da cultura material, ao revelarem hábitos, crenças, valores e modos de vida.
• A admissão e o acolhimento das crianças apresenta o percurso institucional dos menores após a sua entrada na Misericórdia, desde o momento em que a criança era deixada na roda, até ser entregue ao cuidado de uma ama. Neste núcleo exibe-se a roda (uma réplica feita com base num desenho técnico de época), objetos usados para identificar as crianças e livros de registo de entrada, em diálogo com obras de arte dedicadas a este tema. Este núcleo revela ainda diferentes tipologias de sinais deixados com os expostos.
• Percursos com identidade reflete sobre os percursos de vida, as marcas da institucionalização e a construção da identidade. Os expostos eram crianças com um rosto, um nome e uma ascendência. A maioria destas crianças morriam pouco depois de serem deixadas na roda e entre as que sobreviviam poucas foram resgatadas pelas famílias de origem, sendo que grande parte começava a trabalhar muito cedo. Um moroso trabalho de pesquisa permitiu saber o que aconteceu a algumas crianças depois de deixarem a Misericórdia. Por outro lado, a necessidade de conhecerem melhor as origens familiares tem levado descendentes destas crianças a consultarem o Arquivo Histórico da Misericórdia de Lisboa e estes descendentes dão-nos agora o seu testemunho, contribuindo para escrever a história dos expostos na roda.
• Os sinais de expostos: um património da Humanidade é um núcleo que valoriza os sinais enquanto acervo documental e patrimonial de inestimável valor histórico, social e emocional, com relevância universal, centrando-se na candidatura destes documentos a Registo da Memória do Mundo da UNESCO, apresentada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) em articulação com outras instituições nacionais e internacionais.
“Filhos de todos… filhos de quem? Os expostos da roda de Lisboa” estará patente na Galeria de Exposições Temporárias do Museu de São Roque de 17 de novembro de 2025 e 29 de março de 2026, de terça-feira a domingo, das 10h às 12h e das 13h30 às 18h (estando encerrada no dia 1 de janeiro e durante as celebrações litúrgicas).