Radicada em Lille, Sakina Abdou é hoje uma das principais figuras da improvisação na Europa. O seu trabalho cruza o jazz, a improvisação livre e a música contemporânea e experimental, revelando-se num som simultaneamente potente e preciso, visceral e rigoroso, que investiga com insistência zonas de fricção entre a fúria e o apaziguamento, o drama e a ironia. Tem colaborado com artistas e projetos como Eve Risser’s Red Desert Orchestra, Ingrid Laubrock, Raymond Boni, Yacouba Moumouni e Satoko Fujii.
Com uma abordagem que se aproxima da música de câmara, o trio percorre um território sonoro que atravessa o jazz, o minimalismo, a música clássica e o noise. Toma Gouband, com a sua vasta paleta percussiva expandida por pedras e ramos, ocupa por vezes o centro do trio, marcando uma pulsação orgânica; noutras ocasiões, atua na periferia, dando espaço a Sakina Abdou e Marta Warelis. Entrelaçado num emaranhado de contrapontos e linhas prolongadas, o trio revela o prazer de inverter papéis, como solistas, acompanhantes e improvisadoras, com raízes em heranças musicais diversas.
Com esta formação arquetípica e uma trajetória singular, o trio oferece uma amostra de um território musical vasto, misterioso e imprevisível, onde múltiplas influências e referências emergem a qualquer instante, desafiando continuamente os limites da improvisação.
Pianista com ligação umbilical à improvisação e à experimentação, Marta Warelis é uma crente na composição em tempo real e, nas suas mãos, o piano tanto emerge como um instrumento de harmonias quebradas ou de arpejos obsessivos quanto ruge desde as entranhas. A gama de recursos técnicos de Warelis é enriquecida por um catálogo de inspirações que inclui várias correntes de improvisação, as infindáveis declinações do jazz e a música erudita, que digere e devolve de acordo com uma estética pessoal. Em 2022, lançou pela Relative Pitch o seu primeiro álbum a solo, A Grain of Earth, onde reúne todo um notável arsenal de possibilidades tímbricas para o piano, a par de um pensamento conceptual de que tudo se move em constantes ondas de energia.
Toma Gouband é músico, improvisador, inventor, pesquisador e compositor. Ele toca música numa bateria arranjada, utilizando pedras sonoras e outros objetos brutos que colecciona. Atraído pelo estudo de números e proporções, desenvolve uma forma de pensar que lhe permite apreender fenômenos polirrítmicos. A sua abordagem à composição é generativa, parte da sua pesquisa e visa dar a todos a oportunidade de criar à sua maneira, expressando-se através da sua própria linguagem.
Saxofones Alto e Tenor Sakina Abdou
Piano Marta Warelis
Bateria, pedras e folhas Toma Gouband
Fotografia Hugo Gammella