DJ Narciso constitui com os colegas Nuno Beats, Nulo e Dj Lima (o emigrado Farucox e o honorário MC Pimenta) a RS Produções. O colectivo de “Bagdad” (Rinchoa, Rio de Mouro), formado em 2016, chegou a um público mais alargado a partir do lançamento do EP de estreia “Bagdad Style” na Príncipe, há 3 anos. DJ Narciso destaca-se na crew como o produtor em contínuo fluxo criativo de novos temas e dj tools proporcionalmente densas e flexíveis, trabalhando melodia e batidas metálicas com igual proficiência, em baixas e altas rotações. Acaba de lançar “NXE”, EP colaborativo com o produtor britânico Endgame na editora SVBKVLT, de Xangai.
Num tempo de (sobre)consumo de informação, do digital a engolir o mundo, e o mundo a regurgitar de um delírio de excessos, quantas serão, afinal, as propostas artísticas realmente essenciais? E convém balizar a questão: entenda-se por essencial aquela sensação rara de suscitar admiração imediata, de nos fazer questionar o que se experiência ou de nos causar divertimento e terror, quase em simultâneo. Afinal, já muito se inventou e reinventou e os Gabber Modus Operandi não oferecem propriamente um novo universo. Oferecem sim uma nova dimensão, como há muito não se escutava – e tanta falta fazia; é uma palete diversificada, tão envenenada quanto celestial, de sons e performances extremas, numa das encarnações mais filha da puta dos tempos em que vivemos. É um genuíno motim por natureza, de sangue ancestral e futurista, em erupção. É um delirio punk turbinado pelo 4G e pela memória da rave dos 90s. Ou poderá ser, simplesmente, um daqueles pequenos milagres só testemunhados de tempos em tempos.
Longe das ditas primeiras capitais artísticas mundiais, é da Indonésia que toda esta magia chega. Irremediavelmente exóticos aos olhos de um ocidental urbano, a verdade é que os Gabber Modus Operandi fazem parte de uma vaga maior de vanguardismo sonoro oriundo de outros pontos do globo. Com um passado ligado ao metal e ao industrial, passando pelo noise e ao techno, foram variados os projectos e as vidas que o duo composto pelos imparáveis Kasimyn e Ican Harem tiveram até chegarem a este capitulo comum. Fiéis aos ensinamentos DIY e à experimentação sónica, o transe é um estado de espírito, que parece libertar e unir.
As produções cruas, assentes em ritmos desenfreados (superiores aos 200 BPM) e ruído bruto, encontram-se com ecos de música tradicional da Indonésia (onde o gamelão e outras percussões se escutam em tom surpreendente). A esta matéria negra junte-se um furacão vocal, frequentemente gutural e intenso, maléfico como só poderia ser. HOXXXYA é o álbum que aterra em 2019 com reverência mais que merecida. Têm queimado cada palco por onde passam e puder sentir, em primeira pessoa, este tipo de danos é coisa séria demais para quem tem necessidade de vida. Estreia absoluta, para um dia voltar a recordar. NA
Nasceu e vive no Porto, cidade onde frequenta as cabines dos clubes há mais de uma década, bem como um pouco por todo o país. Não faz parte da primeira nem da última geração de DJs femininas nascidas na Invicta, mas faz parte da primeira geração de mulheres a singrar e a ganhar espaço na club scene da cidade – causa que nunca escondeu ser uma das suas grandes prioridades.
Falando de estilos musicais, pode-se dizer que a família dela é a música eletrónica, mas convida todos os parentes afastados a aparecer nos seus sets, formando uma família feliz e equilibrada. Como gerente e programadora de um espaço multifacetado como o Passos Manuel, privilegia, acima de qualquer coisa, a cultura underground onde ela própria esteve envolvida desde muito cedo.
oseias. é o alter ego de inspiração bíblica de um prolífico jovem produtor de hip-hop instrumental a trilhar o seu caminho, que usa, nas suas palavras, a “linguagem do jazz” para trabalhar na tradição de ritmos partidos e narcóticos inventada por J. Dilla com predilecção pela sucessão de Knxwledge. Estreou-se em formato físico com o disco “[trinta&sete]” editado em 2017 na Think Music Records, de ProfJam e associados, e o seu mais recente lançamento “loops[2].” data de Novembro do ano passado numa edição no seu Bandcamp.
A Tropa Macaca, formada em 2005 e sediada em Lisboa, são André Abel e Joana da Conceição. Ambos consideram que a sua música poética tem um ser próprio, um dinamismo próprio. Ela advém de uma ontologia directa e através dela manifestam-se forças que transcendem os circuitos de um saber. Com discos publicados pela Siltbreeze, Software e The Trilogy Tapes, assim como em edição de autor, têm actuado ao vivo no Brasil, Europa e Reino Unido. Em anos recentes apresentaram propostas estéticas como “Síntese Radiante” e “Vai e vem” em espaços como o Passos Manuel e o festival Walk&Talk.